Tese de Mestrado em Línguas e Literaturas Românicas Comparadas

A luta de classes e a ascensão social à época do Romantismo.

  Depois da leitura de Les Misérables, de Victor Hugo, de Les Mystères de Paris, de Eugène Sue, na Literatura Francesa, de Mistérios de Lisboa, de Camilo Castelo Branco, na Literatura Portuguesa e de Senhora, de José de Alencar, na Literatura Brasileira, propomos fazer uma análise da evolução social das sociedades caracterizadas como românticas e próximas do romance popular nascente, analisando os pontos de fixação já com uma transição para o Realismo. Para tanto, tendo em vista o papel preponderante representado por cada um dos escritores no movimento literário em questão e por consequência na sociedade romântica dos seus respectivos países, limitámo-nos aos quatro autores românticos acima citados, mas isto não significa que ignoremos os outros autores e as obras que apresentam pontos similares com estes que foram escolhidos. Utilizámos para tanto os critérios da análise crítica emitidos pelos leitores, definindo o lugar ocupado no corpus pelos autores escolhidos e também determinando as estratégias da influência, da fonte ou da convergência ligada ou não ao sucesso dos autores ou ao acaso dos encontros. Com esta análise da evolução de cada autor e, consequentemente, das personagens mais importantes de cada obra estudada, mostrámos a luta das classes e a consequente ascensão social na época do Romantismo através da evolução social, política e literária de cada autor, utilizando o real como um suporte da obra de cada um dos autores objecto do nosso estudo.

 Na primeira parte, definimos o corpus, justificando a escolha dos autores estudados, através dos testemunhos críticos sobre Eugène Sue, Victor Hugo e as suas respectivas obras, colhidos na imprensa francesa local época, bem como a crítica literária e os testemunhos dos estudiosos de Camilo Castelo Branco e de José de Alencar, publicados em Portugal e no Brasil, visto que não achámos, nas bibliotecas locais, exemplares de jornais portugueses e brasileiros que falassem sobre os escritores de língua portuguesa, as suas obras e a sua evolução.

 Na primeira parte, mostrámos a influência de Eugène Sue, de Victor Hugo, de Camilo Castelo Branco e de José de Alencar nas sociedades caracterizadas como românticas e a transição destes autores para o Realismo.

 Dando continuidade ao nosso trabalho, abordámos, na segunda parte, a luta das classes, a consequente ascensão social e o real como suporte para o nosso estudo, tomando como instrumento a Sociologia. Para tanto, demos uma noção de classe social, segundo o pensamento de Marx, de Weber e de Pareto e mostrámos a maneira como cada autor estudado vê o social. Ao abordarmos este aspecto que acabámos de citar, além da estratificação social e da hierarquia das classes sociais no século XIX, e tomando por base os critérios da renda, do prestígio, do nível de instrução e do grau do poder, mostrámos o papel representado pelos quatro escritores.

 Finalmente, na terceira parte, apresentámos a cronologia dos romances, abordando para tanto as datas, as personagens e a realidade, além dos critérios da análise já abordados precedentemente (a renda, o prestígio, o nível da instrução, o grau do poder), com um olhar sobre a religião: Deus e a justificativa da divisão do homem em classes sociais tais como existem actualmente.

 Em seguida, fizemos uma aproximação sociológica e mostrámos o estatuto das personagens descritas, isto é, a sua situação, a maneira puderam evoluir, sem esquecer o lado histórico e a evolução social das personagens desenvolvidos no momento em que abordámos a miséria, origem de todos os males e responsável, não apensa pela maior parte dos crimes cometidos pelo operário honesto, mas também pela decadência moral da mulher e pela corrupção da criança. Tudo isto sem esquecer dos aspectos evocados por Eugène Sue, como o da desproporção entre apreciação e a punição dos delitos, o cumprimento das penas em contacto com os criminosos de alta periculosidade, cuja influência nociva é sempre fatal para o carácter do indivíduo ingénuo e do operário honesto, tendo como resultado o facto de que a pena cumprida num ambiente nocivo como o das prisões, em lugar de corrigir, vai aumentar ainda mais os instintos perversos do prisioneiros e o seu desejo de vingança contra os preconceitos de um sociedade negligente, que o conduzirá inevitavelmente à reincidência.

 Além destes aspectos, constatámos que o abuso da prisão preventiva por dívidas contraídas pelos chefes de famílias, a falta de recompensa para os bons operários e de protecção para as vítimas dos acidentes de trabalho, e ainda a falta de humanidade de alguns patrões e ainda a insuficiência dos salários, condenam as mulheres, operárias e “ órfãs ” dos pais ou dos maridos, a buscarem na prostituição a única fonte de renda para a sua sobrevivência e a das suas famílias. Quanto aos homens, a miséria e a insuficiência dos salários os conduzem à prática de pequenos delitos, como o exercício das actividades profissionais clandestinas e não protegidas pela lei, ou ainda a venderem a sua alma e liberdade realizando um casamento de conveniência, uma operação financeira tão degradante e humilhante, comparada apenas à prostituição e à escravidão, que é a mais cruel dentre todas as formas de sujeição, não somente pelo seu aspecto mercantil, mas também por denunciar a existência de uma discriminação racial cujas consequências são desastrosas.

 Constatámos também tanto em Les Mystères de Paris quanto em Les Misérables a ineficácia da pena de morte, suplício mais atroz que as galés, um atentado à vida, esta sendo um direito que, à luz da doutrina cristã, somente Deus pode dispor.

 Notámos ainda presença constante desta religiosidade nas obras dos autores estudados, não apenas em virtude de uma explicação maniqueísta do mundo, que associa a felicidade à pobreza (o Bem) e a infelicidade à riqueza (o Mal), mas também, como em Camilo Castelo Branco, a angústia do pecado, na crença da possibilidade da Redenção, na expiação e no remorso que castiga insensivelmente os culpados que, muitas vezes, são os frutos de uma união ilegítima ou os renegados.

 Todas estas reflexões levaram-nos a constatar a existência do Mal entre os homens e uma necessidade urgente de combatê-lo e de aniquilá-lo. Mas de que maneira? Quais são os meios utilizados para um combate eficaz? Simplesmente melhorando as condições de vida das classes populares ou por meio de um progresso concreto, às vezes a passos lentos, outras, a passos precipitados, não em função das evoluções e das revoluções, mas em função do amor e segundo a vontade de Deus?

 Ao respondermos a estas perguntas, esperámos também termos elucidado a existência ou não de um vínculo entre a luta das classes e a ascensão social proposta no corpus, intimamente ligado à evolução e à realização do indivíduo, tendo em vista a construção de um mundo melhor.

 Visto que, numa aproximação com a história literária, as questões da credibilidade e do socialismo ultrapassam as do romantismo e as do realismo, a nossa conclusão responde, inicialmente, às seguintes questões:

 Os nossos autores são reflexos socialistas da sociedade? As suas personagens têm credibilidade na relação social?

 Enfim, é possível que os nossos autores apresentem uma evolução social positiva? (A existência das personagens - a relação social).

 

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